domingo, 29 de julho de 2012

A intensidade de Fatima


Cinco dias na cidade maravilhosa. Depois de um semestre cheio de atividades, nada melhor que um banho de mar em Copacabana para relaxar e recarregar as energias para o que virá. Claro, a presença de amigos queridos é indispensável, isso também não faltou. 
Não sei por que cargas d’água, ao tomar o táxi no Galeão, falei para meus companheiros de aventura: “Já pensou se tem um show da Fatima Guedes para a gente ir...” Depois de alguma estranheza, alguém lembrou: “Ah! Aquela do ai, ai o mato, o cheiro, o céu, o rouxinol...” Isso, mesmo. Comecei a gostar dela por causa da Elis, que em Saudade do Brasil, de 1980, gravou Onze fitas. Comprei tudo o que encontrei aqui pelo Sul, mas ainda faltam alguns discos para completar minha coleção. Talvez um passeio pelos sebos do Rio de Janeiro resolva esse problema.
No segundo dia de passeio, andando pela Nossa Senhora de Copacabana, avistei a Sala Baden Powell e, do outro lado da rua, pesquei com o olhar o nome que procurava: “Pessoal! Tem show da Fatima Guedes”. Compramos os ingressos na hora.
O espetáculo estava marcado para sábado à noite. No domingo voltaríamos cedo para Porto Alegre. Agora, mais do que nunca, era hora de procurar os álbuns que faltavam. Um exemplar me aguardava num dos inúmeros sebos do centro histórico. O de 1980.

Na hora prevista, estávamos a postos. O coração batendo forte. Uma dúvida na cabeça: “Será que eles vão gostar dela? Nunca a vi cantando ao vivo, só a conheço dos discos, vão pegar no meu pé depois...”
A cortina abriu-se lentamente, sob os acordes do violão, a voz inconfundível encheu o ambiente de timbres, tons e notas. Não precisei temer a crítica de meus amores, pois aquele instrumento musical humano justificava a minha insistência, a minha paixão e a minha vontade.
A lua esteve presente nas canções da artista; também os problemas sociais de uma cidade que se transforma a cada momento e, ao mesmo tempo, parece não ter desistido de seus velhos problemas; o amor esteve no ar, de muitas formas, de muitos jeitos, de muitas nuances; no entanto, o que mais se destacou nesta lacuna de tempo em que ficamos parados para que ela passasse, foi uma compositora madura, com uma afinação perfeita, com uma presença de palco impecável e com uma intensidade sem medidas.
Ao sairmos do teatro, com nossos discos autografados embaixo do braço, surgiu um questionamento interessante: “Será que conseguiremos ouvir toda a baboseira a que somos submetidos todos os dias pela mídia depois de ter vivido tudo isso?!” Não tenho resposta, mas não quero que meu ouvido se acostume. Quero mais Fatima, quero mais arte, quero mais profundidade, quero mais criatividade.

Se eu pudesse dar um conselho diria: “Procure uma saída para a massificação cultural a que somos submetidos em nome de um mercado musical alienante. Tem muita coisa boa esperando para ser ouvida/ sentida/ vivida. Saia do curto circuito do pão e circo de cada dia. Você não vai se arrepender...”

P.S. 1: Perdão ao nobre senhor que andou duas quadras a procura de um banco e acabou perdendo o bis generosíssimo pensando que os discos que levávamos haviam sido adquiridos no teatro.
P. S. 2: Obrigado João Pedro Roriz por ligar para a cantora avisando que quatro gaúchos doidos estavam loucos de amor por ela.
P. S. 3: Fátima Guedes. Tu mereces nossos mais intensos aplausos.

Alguns trabalhos da cantora: