Cinco dias na cidade maravilhosa. Depois de um
semestre cheio de atividades, nada melhor que um banho de mar em Copacabana
para relaxar e recarregar as energias para o que virá. Claro, a presença de
amigos queridos é indispensável, isso também não faltou.
Não sei por que cargas
d’água, ao tomar o táxi no Galeão, falei para meus companheiros de aventura: “Já
pensou se tem um show da Fatima Guedes para a gente ir...” Depois de alguma
estranheza, alguém lembrou: “Ah! Aquela do ai, ai o mato, o cheiro, o céu, o rouxinol...” Isso, mesmo. Comecei a gostar dela por causa da
Elis, que em Saudade do Brasil, de
1980, gravou Onze fitas. Comprei tudo
o que encontrei aqui pelo Sul, mas ainda faltam alguns discos para completar
minha coleção. Talvez um passeio pelos sebos do Rio de Janeiro resolva esse
problema.
No segundo dia de passeio, andando pela Nossa Senhora
de Copacabana, avistei a Sala Baden Powell e, do outro lado da rua, pesquei com o
olhar o nome que procurava: “Pessoal! Tem show da Fatima Guedes”. Compramos os
ingressos na hora.
O espetáculo estava marcado para sábado à noite. No
domingo voltaríamos cedo para Porto Alegre. Agora, mais do que nunca, era hora
de procurar os álbuns que faltavam. Um exemplar me aguardava num dos inúmeros
sebos do centro histórico. O de 1980.
Na hora prevista, estávamos a postos. O coração
batendo forte. Uma dúvida na cabeça: “Será que eles vão gostar dela? Nunca a vi
cantando ao vivo, só a conheço dos discos, vão pegar no meu pé depois...”
A cortina abriu-se lentamente, sob os acordes do violão,
a voz inconfundível encheu o ambiente de timbres, tons e notas. Não precisei
temer a crítica de meus amores, pois aquele instrumento musical humano
justificava a minha insistência, a minha paixão e a minha vontade.
A lua esteve presente nas canções da artista; também os
problemas sociais de uma cidade que se transforma a cada momento e, ao mesmo
tempo, parece não ter desistido de seus velhos problemas; o amor esteve no ar,
de muitas formas, de muitos jeitos, de muitas nuances; no entanto, o que mais
se destacou nesta lacuna de tempo em que ficamos parados para que ela passasse,
foi uma compositora madura, com uma afinação perfeita, com uma presença de
palco impecável e com uma intensidade sem medidas.
Ao sairmos do teatro, com nossos discos autografados
embaixo do braço, surgiu um questionamento interessante: “Será que conseguiremos
ouvir toda a baboseira a que somos submetidos todos os dias pela mídia depois
de ter vivido tudo isso?!” Não tenho resposta, mas não quero que meu ouvido se
acostume. Quero mais Fatima, quero mais arte, quero mais profundidade, quero
mais criatividade.
Se eu pudesse dar um conselho diria: “Procure uma saída
para a massificação cultural a que somos submetidos em nome de um mercado
musical alienante. Tem muita coisa boa esperando para ser ouvida/ sentida/
vivida. Saia do curto circuito do pão e circo de cada dia. Você não vai se
arrepender...”
P.S. 1: Perdão ao nobre senhor que andou duas quadras
a procura de um banco e acabou perdendo o bis generosíssimo pensando que os
discos que levávamos haviam sido adquiridos no teatro.
P. S. 2: Obrigado João Pedro Roriz por ligar para a
cantora avisando que quatro gaúchos doidos estavam loucos de amor por ela.
P.
S. 3: Fátima Guedes. Tu mereces nossos mais intensos aplausos.Alguns trabalhos da cantora:
;) e o mundo graças a Deus tem jeito, né? e viva a boa música!
ResponderExcluirMaravilha de narração.. deu para viver de novo. Será que tem como desculpar sair do show, correr pelas ruas atrás de um caixa eletrônico, por engano, e perder o fim do espetáculo?
ResponderExcluirRox