sábado, 16 de junho de 2012

A liberdade da literatura

Resenha do capítulo: O estatuto da literatura infantil, do livro: A literatura infantil na escola, de Regina Zilberman, para a disciplina de Formação do Jovem Leitor, com a professora Celia Doris Becker (in memorian).


lustração de André Neves

O conceito de literatura infantil popularizado no ambiente escolar está intimamente vinculado aos aspectos inerentes à reformulação da estrutura escolar iniciada no final do séc. XVII e presente até os dias atuais. Em sua obra: A literatura infantil na escola, lançada em 2003, pela Global Editora, no capítulo intitulado: A criança, o livro e a escola, a autora Regina Zilberman discorre sobre a origem desse gênero literário e o seu atrelamento à nova estrutura de educação como um suporte pedagógico em detrimento de sua função de arte ficcional.
A escritora apresenta, num primeiro momento, um quadro histórico do surgimento do conceito de infância. Até a Idade Moderna, a criança era vista mais como um projeto do que realmente iria se tornar: um adulto. Com a crise do feudalismo, as posturas aristocráticas foram sendo deixadas de lado e uma nova forma de pensar a família surgiu.  A criança passa a ter um lugar de destaque e de cuidado em um ambiente mais íntimo em que os laços de afeto são estimulados na privacidade do lar, bem ao gosto do estilo burguês do séc. XVIII.
Enriquecendo o trabalho, Zilberman faz uso de algumas citações de autores que também se debruçaram sobre o tema. É o caso de Edward Shorter que aponta uma desestruturação da família tradicional baseada no feudalismo. O namoro passa a ser incentivado pelo amor e não como um acordo familiar e interesseiro; o relacionamento entre mãe e filhos, onde o amor materno passa a ser uma verdade incondicional e acima de todas as coisas e, por fim, a criança é retirada do meio social, sendo protegida e isolada na privacidade do lar. Rousseau é visto como o teórico que apontou a pureza infantil e a necessidade de separá-la do meio social até que esteja preparada para enfrentar o mundo adulto.
A ideia de infância nestas características de “inocência” e do “bom selvagem” corporifica dois sonhos dos adultos: o ideal de permanecer nessa pureza e a expansão do desejo de superioridade, já que a criança permanece inteiramente sob seu jugo.
Para sustentar essa estrutura, a escola também passa por um processo de adaptação no intuito de manter a ordem vigente. Como instituição preparadora para a vida adulta, a escola precisava proteger as crianças, isolando-as da sociedade, impedindo uma vida social diversificada, tornando-se, assim, um mecanismo ideológico. Aparecem também as primeiras criações literárias voltadas ao público infantil como um instrumento das normas em vigor.
Para merecer o status de arte, a literatura infantil necessita desatrelar-se do moralismo com que foi alcunhada. Tanto a escola quanto a literatura possuem uma natureza formativa dinâmica, cabe a esta ser utilizada como um espaço de lazer e fantasia, comprometida com o meio social, sintetizando através da ficção o mundo no qual o indivíduo está inserido, apontando possibilidades diversificadas de visões presentes no texto, assim, poderá haver um intercambio entre o leitor e o texto e um distanciamento da doutrinação que permeou a utilização da obra literária no ambiente escolar durante tanto tempo.




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